O que pode paralisar um líder?

pr marcos e pra rosane

  Esta é a primeira parte de um estudo sobre os embaraços que quase destruíram o ministério de um grande profeta, Elias.

Elias foi um dos mais admiráveis homens de Deus. Tão tremendo, que não provou a morte e se tornou ícone profético usado pelo próprio Senhor. Entretanto, seu ministério e sua vida quase terminam numa caverna, depois que Jezabel o ameaçou de morte.
Não foi a mera ameaça de uma mulher que quase destruiu aquele homem de Deus. Aquilo foi apenas a gota d’água. Na verdade, havia na alma de Elias muitos nós, situações mal resolvidas que ele foi acumulando ao longo da trajetória.
Quando Deus foi resgatá-lo na caverna da desistência, desafiou-o com a pergunta: “Que fazes aqui, Elias?” A resposta pura e simples deveria ser: “Estou com medo de Jezabel”. Mas não foi isso que saiu do seu coração. Era muito mais complicado...


Vamos procurar entender, através do desabafo que o profeta fez, que laços podem paralisar qualquer um de nós, até mesmo o melhor...
1) JUSTIÇA PRÓPRIA – A primeira frase que sai da boca de Elias diante da pergunta de Deus (“Que fazes aqui?) é uma afirmação veemente da sua fidelidade. Ele sabia que era bom, correto e dedicado. Daqui nascia o seu problema! Tomado de justiça própria, ele começou a questionar em seu interior a justiça de Deus.
“Ele respondeu: Tenho sido (extremamente) zeloso pelo SENHOR, Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida” (I Reis 19:10 – idem no vs. 14).
a) A justiça própria nos leva a exacerbar as nossas virtudes e a relevar as nossas deficiências – A descrição que Tiago faz de Elias é que ele era “homem semelhante a nós, sujeito às mesmas fraquezas” (Tiago 5:17). Entretanto, o profeta perdeu a referência da sua humanidade e se apresentava como quem tem um currículo impecável. O fato dele usar o termo “extremamente zeloso” na segunda vez que responde a Deus, demonstra esse senso de superioridade. Toda vez que nos sentimos assim, nos assemelhamos ao fariseu que dizia “não sou como os demais homens” (conf. Lucas 18:9-14).
b) A justiça própria nos leva a presumir que não merecemos passar por situações difíceis e vergonhosas – Elias estava confuso por apostar numa tese equivocada: a de que o justo sempre merece a honra. Esse tipo de confiança na carne nos leva a desilusão, quando as coisas não acontecem como achamos que seria “justo” acontecer. (Exemplo: Jó, em Jó 1:8-9; 23:2-4; 34:5-6,9; 32:2)
c) A justiça própria nos leva à comparação, sempre nos colocando na condição de mais dignos do que os outros – A comparação é uma grande armadilha, uma vez que somos diferentes e Deus nos trata diferentemente, de acordo com sua sabedoria/justiça. Elias se considerava “melhor que os outros” e baseado nisso esperava circunstâncias melhores para sua vida. Ao entrar nesse jogo e se comparar com os outros, qualquer homem de Deus terminará enredado por muitos sofismas (Exemplos: Asafe, no Salmo 73:2-5,12-14 e Jeremias, em Jeremias 12:1-3,5).
d) A justiça própria nos faz esquecer da única coisa que realmente merecemos como pecadores: a morte! – É sempre a partir dessa verdade que precisamos partir. Romanos 3:23 e 6:23 são decretos que só podem ser removidos da nossa vida quando nos apegamos à graça. Toda vez que apelamos para a justiça própria (nossos méritos), saímos da graça e voltamos para a lei, que nos condena. Graça é favor imerecido! Ora, se não merecemos nada além da morte, como podemos reivindicar algo de Deus?! A graça só triunfa no nosso quebrantamento (Exemplo: Jó liberto da justiça própria quando olhou para si a partir da perspectiva correta – Jó 42:1-6).
e) A justiça própria só é vencida quando deixamos Deus fazer o papel de Deus e nós simplesmente nos contentamos com o privilégio de servi-lo – Quando não nos aferramos a nenhum direito baseado em nossos acertos, deixando que o Senhor decida sobre que fim nos dará, temos muito mais chances de seguir livres na vida e terminar honrados (Isaías 45:9-11). A tremenda postura de Ananias, Mizael e Azarias em Daniel 3:16-18,24-25,28 é um bom exemplo de quem deixa o Senhor fazer a sua própria justiça.