Fazendo do tempo um aliado da sabedoria
"Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio." Salmos 90:12
O tempo é um grande desafio para nós. Quando novinhos, desejamos que ele passe rápido. A partir de certa idade, nos assustamos com a sua velocidade. Diante de sua aparente tirania, alguns se desesperam, outros se entregam passivamente como se nada tivessem a fazer.
Do ponto de vista de Deus, porém, o tempo pode ser uma fonte de sabedoria e propósito para nossas vidas. Ele o colocou como marco para nossas realizações, dividiu a nossa vida em ciclos e estabeleceu segredos que só a contagem dos nossos dias pode nos revelar. Se os descobrirmos, alcançaremos um coração sábio e faremos do tempo um aliado da nossa realização. É por isso que o Salmista diz: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio".
Esta é a expressão central desse salmo de Moisés (um homem que viu o tempo se submeter ao propósito de Deus em sua vida). A ideia é: se aprendermos com o Senhor a lidar com o tempo, seremos tomados da sabedoria celestial e viveremos bem neste século e no porvir.
Vamos compreender algumas verdades embutidas neste salmo e que, de certa forma, já são uma resposta a esta exclamação central...
A primeira verdade que me salta ao coração é que nenhum de nós é o centro do universo, mas parte importante de um plano eterno que flui de uma geração para a outra. Ao dizer "Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração", Moisés revela a consciência de que nossa vida é uma sequência, desdobramento do que Deus fez em gerações passadas e elo do que ele vai fazer nas gerações vindouras. Em outras palavras, vivemos hoje desfrutando do que foi semeado na história antes de nós e semeando aquilo que as próximas gerações irão desfrutar.
Vislumbrar a vida assim é maravilhoso porque desperta em nós a gratidão pela história que nos abençoou. Estamos colhendo aquilo que não plantamos! A bondade de Deus nos fez herdar uma riqueza insondável na fé. Nossos pais espirituais entesouraram para nós aquilo que nunca poderíamos adquirir em nossa curta existência.
Não começamos do zero. Gerações tremendas prepararam nosso caminho e hoje esta "grande núvem de testemunhas" nos inspira a seguir (conf. Hebreus 12:1).
Os que guardam esta consciência semeiam para além de suas próprias vidas e não vêem o tempo como um algoz. Nossa vida toma outra dimensão quando vivida sob a perspectiva do "de geração em geração". Isso me diz que o que eu faço aqui, em Deus, não termina comigo, mas tem sequência no futuro além de mim.
A segunda grande verdade desse salmo é que viver sob a égide do pecado torna o tempo um grande algoz. Do vs. 4 ao 11, Moisés mostra quão rápida e desgraçada é a existência humana nas garras do pecado. Leia o texto bíblico e verá que conclusão é: não vale à pena viver assim!
O pecado faz com que a existência humana se torne uma tormenta e seus dias se resumam em sofrimento e peso. Ao que escolhe viver de costas para Deus, a vida passa rápido e cheia de dores. Ao invés de desfrutar dos tesouros herdados de geração em geração, este homem vive sob as consequências de sua rebelião e talvez, quando despertar, já seja tarde demais.
Por outro lado, a vida vivida sob o brilho da face de Deus pode se tornar uma experiência de alegria e restituição. O clamor de Moisés no versículo 13 deveria ser o clamor da "virada" na vida de todos nós: "Volta-te, Senhor! Até quando?". Ele representa a necessidade de buscarmos a face de Deus, de atrairmos sua atenção, pondo fim à vida vivida sem propósito e sob a maldição do pecado.
Segundo as palavras do salmista, a compaixão e a benignidade do Senhor podem tornar todos os nossos dias em dias de júbilo e celebração. Quando nos encontramos com Deus, um prazer sobrenatural é liberado sobre nós, à despeito das lutas. E mesmo as perdas do tempo de pecado podem ser sobrepostas pela restituição, quando no meio dos nossos dias buscamos a Deus. No vs. 15, Moisés ressalta a possibilidade de termos nossas aflições e adversidades do passado substituídas pela alegria da restauração.
O fim de uma vida que aprendeu em Deus a lidar com o tempo é a confirmação dos seus frutos. Ao clamar pela graça de Deus para que as obras de suas mãos fossem confirmadas, nos versículos 16 e 17, Moisés está apontando para a finalidade de nossa existência terrena: trabalhar por frutos que glorifiquem ao Senhor e coroem nossa vida.
Nosso trabalho alcança êxito quanto nasce do trabalho de Jesus Cristo na cruz, ou seja, da graça, e busca revelar sua glória à geração vindoura. Quando aprendemos a viver assim, olhando para trás e baseando-nos no que foi conquistado por Cristo; olhando para frente e entendendo que há uma glória a ser revelada aos nossos filhos, trabalhamos na fé de que a obra de nossas mãos será confirmada e não se perderá.
Shalom!